Quanto tempo você acha que ainda vai viver?
Quantas vezes você hoje meditou sobre a Vida?
Quantos minutos você hoje caminhou sem pressa?
Quanto tempo hoje você acariciou teu corpo e tua alma?
Quais os alimentos saudáveis que você vai comer hoje?
Tem seguido o que te pede o teu próprio coração?
Quanta gostosura existe nos teus atuais relacionamentos?
Quais são as coisas novas que você aprendeu hoje?
Quantas pessoas você hoje abraçou de verdade?
Quantos livros você está lendo?
Quando foi o teu último grande êxtase?
Quantas vezes hoje você pensou no Amor?
Quantas vezes você hoje ajudou alguém?
Quanto de prazer e de alegria o teu trabalho proporciona?
Hoje, quais as coisas boas que você já fez ou vai fazer?
Como vai a liberdade dos teus amores?
Terá tempo de contemplar a lua e as estrelas?
Tem olhado os pássaros do céu e os lírios do campo?
Como anda o teu Planejamento Estratégico Pessoal?
Quantos anos você supõe que ainda vai viver?
Como vai a tua própria Liberdade?
Quais são os teus Sonhos?
O que é que você quer da Vida?
Experimente-me.
Sinta a gostosura da minha língua portuguesa.
Aproveite para ouvir as músicas temas:
"Walk on the Wild Side" — de Lou Reed, e "Vagabond" — de Wolfmother.
Assista.
Toda relação é restritiva — por definição. O que varia é o grau de restrição e os propósitos mútuos dos que se relacionam. Mesmo as relações comerciais são restritivas, posto que fundadas em mútuas concessões. Eu te dou um desconto — e você só compra de mim. No casamento ocorre a mesma coisa. Eu tolero a tua cerveja e o futebol, e você não reclama por me ver descabelada. Eu só transo com você, e você não sai com mais ninguém. Você me dá um desconto, que eu te pago à vista. E por aí vai.
É uma troca, simplesmente.
Também influem os objetivos imediatos ou remotos de cada um, além da sua (i)maturidade emocional. Emprego está difícil, vou me casar. Quero ter um filho, e preciso de alguém que o produza, eduque, ou sustente. Quero sair da casa dos meus pais. Quero morar com meu atual namorado ou namorada. Quero alguém para ser a projeção da minha mãe. Quero ajudar alguém. Quero que alguém me ajude. Quero ter a chance de exercer minhas ganas autoritárias. Quero constituir uma família. Quero ser respeitável. Quero voltar a ser santa. Quero uma empregada doméstica. Quero seguir a tradição. Enjoei do meu estado civil original. Quero reproduzir a relação dos meus pais, exatamente igual — ou corrigindo-a. Quero mudar de vida. Quero melhorar a vida. Estou apaixonada. Quero desperdiçar minha vida. Cansei de ser livre. Quero me regenerar. Quero fazer uma grande besteira. Quero fazer uma besteira monumental. Nosso casamento será diferente. Quero fazer amor todo dia. Quero ser feliz. Quero engordar. Quero foder a minha vida sexual... Etc.
Como se vê, razões para casar é o que não falta.
Porém, no casamento tradicional, há quase sempre um componente meio maldoso que, contraditoriamente, estraga muito a relação — exatamente para tentar mantê-la em pé: ou seja, o ciúme. Mas aí já é outra história. /// No livro Solidão a Mil eu escrevo algo mais sobre essa minha tese.
Texto originalmente publicado em Abril de 2008 - Guarujá, quando eu estava reformatando meu quinto casamento. Em verdade, refinando a relação. Para que aquele amor não morresse no Pico. Como aliás não morreu, posto que cada um de nós prosseguiu, livremente, no seu respectivo e amoroso caminho florido.
Meu bisavô, aos sessenta e dois anos de idade, na década de trinta do século passado, abandonou tudo e apareceu por aqui trazendo no colo uma adolescente chamada Vitalina Maria de Jesus. Um despropósito, disseram todos. Mas o verdadeiro rebelde não hesita entre viver e morrer. O velho Luiz Marques, atolado numa estabilidade massacrante, não havia desistido de procurar aquela coisa que atende pelo singelo nome de felicidade.
Gastou janeiro fazendo planos, um mês inteiro ouvindo vozes, que nem Moisés. E aquela menina passando ali, na frente dele, feito convite, descalça, vestidinho de chita, cabelos soltos, meio ressabiada... Os peitinhos despontando. Então o fazendeiro abandonou tudo: as propriedades e as impropriedades que a elas se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, as fazendas, as noras, os netinhos, os novilhos e as velhas emoções.
Tudo por causa de Vitalina.
Por aquela menina delicada ele daria o mundo. Por ela, e pelo que então simbolizava aquele amor, ele abandonou mais de mil cabeças de gado e todas as certezas que lhe haviam dado como herança. Era um autêntico rebelde: acabou trocando o futuro garantido e certo, porém morno, por um presente delicioso e faiscante.
Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Porque, você sabe, não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. O respeitável senhor Luiz Marques tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos.
Não fosse por isso, eu não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho branco e contando essas coisas todas pra você.
Sou portanto bisneto da rebeldia.
Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores.
E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas.
O texto acima, escrito em 1988, abre meu livro Manual da Separação, posteriormente reeditado com o título Beijos No Céu Da Boca. Caso queira saber mais, click na imagem da capa:
É só um gesto de elegância filosófica.
Isto é fatal.
Mas,
se eu pudesse começar de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei:
Jamais teria permitido que me prendessem,
ainda que em nome do amor.
Teria quebrado as correntes logo no início.
Teria tido menos pressa
e mais coragem.
E nenhum sentimento de culpa.
Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.
Todas as manhãs começariam
com meditação, orgasmo e frutas leves.
Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.
Minha Vida seria uma festa...
Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.
Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.
Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.
Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.
Teria viajado muito mais do que viajei.
Correria mais riscos.
E teria tido seis milhões de amores profundos...
Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.
Andaria mais leve:
não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.
Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.
Não teria tentado salvar todo mundo.
Amaria muito mais a liberdade.
Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.
Tentaria uma coisa nova
todos os dias.
Em tudo que fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.
E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.
Edson Marques
Manual da Separação
página 71
Deu certo.
Esse poema, portanto, não foi feito para mim, pois a a maior parte do que ali se diz eu já faço desde que me conheço por gente. Cometi alguns erros, é claro. Liguei-me quatro ou cinco vezes a pessoas ciumentas, e sofri por manter tais relações por períodos demasiado longos (no total dessas relações, perdi uns três ou quatro anos de vida). Por descuido, também tomei algumas decisões equivocadas, em outras áreas, mas tudo se resolveu (maravilhosamente bem) a seu tempo. O que lamento mesmo, e lamentarei até o fim dos meus dias, é ter perdido aqueles quase três ou quatro anos com pessoas ciumentas, inseguras, possessivas. E esse tempo é irrecuperável. Houve também alguns jacarés nos quais depositei confiança e saquei mordidas — mas essa é outra história...
Com a interpretação impecável de Simone Spoladore.
Paulo Coelho
Todo sonho tem um preço.
Acontece que a liberdade assusta. Essas pessoas estavam quietinhas, sossegadas em sua própria escravidão emocional, aninhadas nos seus próprios preconceitos, abraçadinhas às suas crenças opressivas — e eu venho lhes dizer que a liberdade é possível. Eu venho lhes dizer que o amor é possível. Que a felicidade é possível. (*)
Então, essas pessoas começam a se questionar. Começam a rever os seus conceitos... Algumas criam coragem e chutam seus medos inexplicáveis. Suas cabeças viram corações enlouquecidos. Suas estruturas, antes tão estáveis, começam a ruir. Suas bases tremem. Relações se desfazem com facilidade espantosa. Seus "amores" perdem o sentido. Seus deuses dançam...
Porém, nem todas estavam preparadas para esse fascinante mundo novo que se abriu de repente. E algumas querem de volta o mundo antigo. Porque sentem falta da segurança, daquela quietude, daquela paz de cemitério. Daquela velha vida. Sentem falta da comodidade contraditória que o tédio dá.
Afinal, ser livre dá trabalho... Muito trabalho.
PROJETO PARA UMA ESCOLA DE MUDANÇAS
Eu te convidarei.
Mas eu venho para dizer exatamente o contrário:
A vida pode COMEÇAR a qualquer momento.
E você — já se decidiu?
O ousadia move o Mundo
Esta é a minha ideia 0249. Edson. Guarujá. 01.09.2012. 05h34.
Conto. 1985.
A ORELHA
Quando ganhei o Prêmio Cervantes, ela não foi comigo, porque não suportaria me ver tão amado pelas outras na cerimônia. Dora me dizia que seu ciúme esmagava-lhe a própria alma. Aquele câncer chamado ciúme aumentava-me as dores e as penas, amputava-me as asas, me prendia, me amarrava, sufocava. E um poeta de asas cortadas vai ficando gelado...
Minha vida virou uma verdadeira prisão.
Só me expressava escrevendo.
Sempre acreditei que as circunstâncias fazem os homens na mesma medida em que os homens fazem as circunstâncias. Mas, os acontecimentos daquela tarde levaram-me a concluir que há um certo predomínio das circunstâncias sobre os homens. No fundo, aquela foi uma tarde que esperei por muito tempo, planejando-a, tentando moldar-lhe os menores detalhes, e querendo, desesperadamente, fosse ela, quando acontecesse, da mesma forma que construída pela imaginação. Elaborei fantasias as mais ridículas, chorei às vezes até não mais poder, engasgando-me com soluços que pareciam pedregulhos. Não raro perdia-me naquele resto de realidade que a vida me dava de presente, e por dentro sugava-me estranha vontade de mudar com violência o que sempre havia conseguido aceitar.
Aquela espera foi se transformando em mais uma tortura.
Porque não passava de uma espera passiva e de certo modo desnecessária. Passei a ter pesadelos horríveis, em que duas mãos crispadas e sujas tentavam sufocar-me. Acordavam-me então os companheiros de infortúnio, por força dos meus gritos de pavor. Isso era constante. Faltava-me a fome, abandonei os projetos de fuga, os amigos se afastaram.
Permeando toda essa situação de tempo e de lugar, a desfocada lembrança, imagens que a memória me trazia com insistência. Assim como Abraão, o patriarca do povo judeu que levou seu povo ao Canaã, meu pai também ouvia vozes, e nos levou ao Paraná.
O chuvisqueiro enviesado continuava martelando-me as costas com suavidade quando senti sua voz me chamando, baixinho:
— Chegamos...
A fronteira ficara para trás, mas nosso estado continuava precário. Eu não entendia por que era prometida aquela terra. A quem? Essa dúvida me angustiava, talvez porque promessas foram o fundamento daquele meu tempo, um tempo escasso, sem solução, em que nada havia que não fosse provisório.
Era sempre um tempo de passagem.
Ele vinha em mangas de camisa, xadrez, que a chuva enegrecia e colava-lhe ao corpo. Havia me coberto com seu paletó, aquele mesmo azul-marinho do casamento. De vez em quando, acariciava-me o rosto, com gestos puros que ainda hoje moram no meu peito, inesquecíveis, demorados. Abri um pouco os olhos, vi luzes da cidade brilhando em conta-gotas, um colírio. A botina esquerda apertava-me o pé, ainda nova, quase uma comemoração, um presente prometido quando ajudei na última colheita do feijão das águas. Levantei-me sobre o braço, encolhido, sentindo cheiro de terra e um pouco de esperança. Meu pai incentivou a marcha do Estrela com o chicote, virou-se para meu lado e, quando nossos olhos se encontraram, tentou profetizar:
— Agora as coisas vão melhorar, se Deus quiser...
Passei a mão torta pela testa, afastando o cabelo escorregado, num gesto de quem não pode acreditar.
— Você vai entrar na escola...
Estrela era o nome do meu cavalo, já dado em promessa a um santo, não sei qual. A charrete era azul, desbotada, velhinha, o nosso meio de transporte. Em cima dela, sonhava com lugares novos — mas tudo era igual. Embaixo do banco, nossas roupas, poucas, amassadas no saco de farinha, as panelas barulhentas, a espingarda.
E o retrato da mãe, — pensei, — onde estará?...
Constatei que, apesar da pouca idade, já conseguia ter passado e memória. Meu passado se resumia na desesperada lembrança que eu tinha de minha mãe. Atirei-lhe uma pedra na testa. Lembrança meio confusa. O sangue desceu-lhe por sobre os olhos, que suas mãos procuraram em vão escondê-los dos meus, para poupar-me talvez o susto pela pontaria, que a partir de então seria sempre certeira. Se chorou, não me lembro. Estava com ela pertinho do poço, o balde descendo no rodar cadenciado da manivela já gasta. Roupas na tina marrom, de barril, a menor — azuis, brancas e vermelhas, se não me engano. Um lenço escondendo-lhe os cabelos que nunca soube o verdadeiro comprimento, escuro, emoldurava-lhe o rosto cheio de gotinhas, não sei se de orvalho, não sei se de suor. Dedos pálidos, enrugados, cheirando a rosas.
Voltei a ouvir o trote cadenciado do Estrela, que às vezes chutava pedregulhos. O braço começou a doer. O chuvisqueiro continuava, fraco, como véu feito de riscos frente às luzes.
Dá-me pouco pão e ainda me castiga - devo ter pensado, quando saltei do carrinho de lata, aquele verde, espantando uma galinha, e joguei-lhe com força uma pedra no meio da testa: o sangue desceu-lhe por sobre os olhos que suas mãos procuraram tampá-los dos meus. Em vão: o susto permanece até hoje, e talvez seja a causa primeira desse processo caótico de espera.
A charrete balançava-se num ritmo redondo, as rodas giravam produzindo um barulho meio surdo: fi-res-to-ne... fi-res-to-ne... — era a marca do pneu, e minha mãe soletrava assim. Ela sabia ler. Eu gostava dela. Picada por cobra, morrera havia três meses, sem tempo, segundo meu pai, de chegar à Santa Casa. Disse-me que tinha ela os olhos cansados. E que inchou. E que nunca mais eu a veria.
Lembro-me agora dos mosquitinhos que caíam no meu prato de sopa de macarrão cortado, lá no sítio, no banco de madeira ao fim da tarde, a fome infantil enorme, o futuro meio ausente, o mormaço, o medo, a hora das aves marias voando na minha cabeça. Outra coisa de que me lembro era o bolo de fubá. Seco, feito sem manteiga, esfarelava na boca, mas como era gostoso com café preto, lá no morro da melancia. O riozinho tortuoso, onde me dava banho com sabão de cinzas, o rio maior, que tinha peixe e que era fundo, um perigo. Minha mãe sempre me parecia a melhor mãe do mundo. Queixava-se constantemente de dor de estômago, principalmente à noite, ao irem para cama, ela e meu pai, quando então eu aguçava meus ouvidos para captar seus diálogos. E a conversa, às vezes ríspida, girava sobre caminhos diferentes na vida deles, mais filhos ou menos filhos, pobreza, injustiça, lavouras...
Coitada da minha mãe: vivia sempre disfarçando com sorrisos lentos a vagarosa dor da vida.
— E o retrato da mãe, pai?...
Demorou para me responder, sem olhar-me nos olhos, com voz fraquinha, meio rouca, desanimada:
— Tá no bolso, na carteira...
Interessante: parece-me que nossas frases, mesmo aquelas mais decididas, eram sempre reticentes, pastosas, doloridas. Lembrei-me de minha irmã, com suas perninhas frágeis, e que morrera como se não tivesse tempo para viver. Passava o dia todo deitada num velho berço improvisado, olhando nuvens de sorvete no céu do Paraná. No retrato, ela estava ao lado de minha mãe, e isso me causava um certo ciúme. Morrera sem tempo de deixar saudades, mas, diziam-me, estava morando com deus, cercada de anjos. E com muita saúde. Um vestidinho dela ainda era guardado, de bolinhas vermelhas, com alguns buracos pequenos que pareciam enfeites. Quando crescer, vou tirar um retrato bem grande... — confessou-me o Cartier-Bresson que havia no meu peito. Um retrato onde aparecesse, além de mim, só o infinito azul do céu. Voltei-me à posição inicial, ajeitei o paletó por sobre o corpo, fechei os olhos com força, engoli fosfenos em seco, senti a barriga roncar outra vez.
Era fome, mas fiquei com vergonha de falar.
E foi assim que entramos na terra prometida, eu e meu pai — sacolejando ilusões numa charrete azul puxada por estrelas e ternuras.
Acontece que essas lembranças, com precisão fotográfica, perturbam-me. Se houve épocas em que cheguei a questionar até a validade das carícias, a necessidade do contato físico amoroso, isso se deveu à ausência dos carinhos que sempre me negou, quer pela distância, quer pela mentira. Passei a ter impressão de que a notícia de sua vinda começava a prejudicar irremediavelmente aquela situação de equilíbrio emocional entre o mundo desgraçado em que vivia e o conjunto instável das minhas aspirações.
Terei sido eu o primeiro a criar a necessidade dessa distância que passou a existir entre nós, ou preciso mesmo dessa geografia de excessos para manter apagadas minhas concepções mais antigas com relação ao que posso gostar?
Ninguém tem culpa de ser o que é, e nem pode, por si mesmo, ser de outra forma. Alguns precisam de ajuda, mas nem todos se permitem essa humildade. Muitos talvez não tenham conserto, e outros não têm consciência. Todos quase sempre se enganam, às vezes na qualidade da promessa, outras vezes no tamanho das expectativas. Chorar em ombros amigos foi coisa que nunca soube nem pude fazer. Não que me faltasse a vontade: faltavam-me ombros amigos, e meus olhos não tinham mais lágrimas.
Minha vida é uma porta que se abre à história mas se fecha aos meus amores. Meu contraído corpo de réptil me envergonha, me atrapalha e desespera. Os ódios que suponho sentir me enrijecem, e não me deixam sequer perceber o cheiro das coisas livres. Esses anos todos aqui dentro mudaram-me radicalmente. Mas não sei se fui modificado mais pelos anos que se passaram, ou se pela cadeia propriamente. Ou se por ambas as coisas. Aqui, a gente vai percebendo o reverso da medalha. E percebendo de uma forma diferente, pois as perspectivas vão se tornando caóticas, o leque de opções vai se fechando, as oportunidades, diminuindo.
A gente passa a não mais saber de que lado ficou a verdade.
Em certos momentos, começamos a ver que todo realismo tende a ser conservador. Porque o sonho é sempre mais importante do que a realidade que o suporta. A tarde surgiu bonita, apesar de que o sol de inverno, esmaecido, quase nem sombras fazia no pátio da nossa espera. A calma daquelas coisas dormidas me afastava da razão, o nó na garganta entorpecia a fala mole. Sentado no primeiro banco, logo à entrada do portão principal, esperava minha mãe. Meus dedos tamborilavam na madeira, como se a tarja negra da sujeira das unhas executasse um balé de prisioneiros. Na verdade, esses dedos queriam chorar a iminência do inevitável. O corpo todo tremia.
Procurava não olhar em coisas que tivessem olhos de retribuição, ao mesmo tempo em que mastigava a liberdade da minha língua, e mordia os lábios ressequidos por falta de vitaminas. Triste o papel que teria de representar por força daquilo que agora chamo de determinismo absoluto. Senti dores no estômago. Como a ansiedade não me deixou novamente almoçar, talvez fosse fome.
Muita gente passando, abraços, sorrisos, fogo acendendo cigarros, saudades e paixões. Não será ela uma dessas que passaram? Não, o guarda iria trazê-la até mim, não seria capaz de reconhecê-la, suas feições já não devem ser as mesmas.
Comecei a montar o desesperante cavalo da angústia.
Parecia-me que apenas eu estava sozinho. A espera da mãe que supunha morta misturava-se à promessa de escola que meu pai fizera, e que nunca se concretizara. E foi nesse momento, aguardando mais uma promessa, que levantei a cabeça. Não gostava muito de mulheres será que dela iria gostar? Será que aquele encontro seria um renascimento, pelo fato de que ambos iríamos nos re-conhecer? Terá sido ela, realmente, culpada disso tudo? Será que não teve razões em fazer o que fez? Não consigo me lembrar das cores do vestido, não consigo. Frente a frente, depois de tantos anos. Tentei iludir-me, colocar um pouco de sentimento no olhar, dissimular talvez uma paixão que não sentia. Ela estava com falsos cabelos loiros, muito maquiada. Lembrei-me do lenço de bolinhas azuis à beira do poço. Demoramo-nos olhando nos olhos. Brinquei de novo no meu carrinho de lata. Estendeu-me suas mãos e murmurou algo como você está muito bonito, um homem feito... senti muito a tua falta.
Suas mãos estavam quentes.
Aquele momento me parece ainda indescritível.
(Talvez um dia possa contar tudo).
O perfume que ela usava, forte, doce, barato, chegava a excitar-me. Idéias estranhas passaram-me pela cabeça. Ela chorou, e eu senti o gosto salgado das suas lágrimas. Acho que por momentos desisti da vingança para amá-la totalmente. Tomei-a nos braços para um beijo de amor - de amor e despedida. Tive medo, e vontade de dizer a todos que aquela necessidade de ficcionar um delírio não passava de uma ilusão grotesca.
E a iminência do inevitável voltou a me assustar.
Algo fez-me mudar de ideia.
A lembrança do retrato em que eu estava ausente. O bolo de fubá, o abraço que ela me dava - não sei. No pátio não havia mais ninguém. Fez-se um silêncio absoluto, um silêncio gelado. Tomei-a de novo nos braços para um beijo de amor e despedida. Soava uma campainha, dizendo que a visita chegara ao fim.
Seria agora - ou nunca mais!
(...)
A história continua.
Mas agora vou fechar as aspas que esqueci de abrir antes de acreditar nas circunstâncias. Claro que esta é apenas uma bela história inventada que o destino escreveu certa vez em meu nome. Era só mais uma peça que a vida me pregava. Em verdade, jamais trocaria minha Mãe por um prêmio que me levasse à Espanha. A orelha dela foi feita para o beijo, não para a mordida.
Acontece que entre ficção e biografia existe um prêmio!
Então, volto ao presente e me questiono. Se meu amor é diferente a cada instante, como poderei te amar a mesma todo dia? Como repetir outra vez o meu risco brilhante na tua escuridão incendiada?
Ontem comprei flores para recordar o nosso amor; hoje, um frango assado faz lembrar-me de você. Ontem, chorei ao rever as nossas fotos; hoje, tomo vinho num corpo de cristal e já não sei se me arrependo. Ontem, fiquei sozinho no meu quarto; hoje, uma deusa nova me espera em nossa cama, e me sorri. Ontem, chorei demais a tua ausência; hoje — nem sequer me lembro de você. Parece ser verdade: Quem ama só se realiza ao superar a própria memória do seu amor.
Então.
Há uma pequena prisão dentro de uma grande prisão.
Por isso, o pior é quando estamos na menor.
Mas vocês não percebem que.
(*) A propósito, em 24.09.23, em SP, eu tive minha ideia 1.291. Dois dias antes, a excelente ideia 1.290. E em dezembro de 2024, já estou na minha ideia 1320.
008. Era um dia de duplas esperanças. Era uma noite de luar azul escandaloso. Era um sábado de aleluias, era hora de metáforas e loucuras. Era uma casinha de madeira e Primavera ao lado de uma bela roseira branca no finzinho de uma rua principal. Como toda mulher inocente, minha mãe estava grávida de amor: havia sido deflorada à beira de um poço por um Inspírito Santo alado e dançante. Era madrugada de novo e ela estava sozinha outra vez. Foi então que essa Mulher resolveu me dar a Luz - em todos os sentidos.
Era o começo de uma história de Amor.
(...)
Ela compreende os meus gestos, mesmo quando parados no ar. Ela me aceita como sou, inteiramente. E me faz acreditar, cada vez mais, que o verdadeiro amor é a união gostosa de duas espontaneidades, a fusão poética de dois devaneios.
Essa mulher é minha Mãe. Às vezes a geografia nos separa um pouco, mas temos uma ponte entre nós dois chamada Amor. E eu sempre me lembro das canções de ninar que ela cantava para que eu não dormisse... Do Kyrie Eleison e Tantum Ergo a Dalva de Oliveira e Noel Rosa. E também me lembro do dia em que eu nasci.
Ainda quero te ver livre, meu Amor.
Meu trabalho é escrever apenas, e contar histórias para mudar o mundo. Arriscar a Vida em teu nome e fazer loucuras por mim também. Dançar profundo à beira do abismo, e tecer a sorte como se aranha. Porque, felizmente, há dois amantes loucos morando em mim: um é poeta, e o outro, filósofo. O filósofo compreende tudo porque reflete muito por sobre o pouco que o outro pensa. E acaba vendo mais longe no espelho das coisas porque sobe numa escada chamada Razão. E isso é bom. Mas o poeta, esse não compreende nada — porque não precisa de coisa alguma. Nem pensa em pensar profundo: só dança com seus amores. Não vê mais longe, nem vê mais nada. Mas sua escada se chama Poesia. E isso é belo.
Eu respeito sempre os meus amores. Assim mesmo: no plural. Tenho muitos. Sempre os tive. Mas, quando eu digo "respeitar os meus amores", às vezes refiro-me às pessoas que eu amo, outras vezes às coisas que eu sinto. Portanto, respeitar os amores tanto pode significar respeitar as vontades (desejos, critérios, preconceitos) de pessoas que eu amo (e que suponho me amem), quanto seguir livremente as paixões (desejos, critérios, loucuras) que eu trago no meu próprio peito. Dito de outra forma, e preferencialmente: respeitar os meus amores é seguir meu coração.
Não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. Foi por isso que o meu bisavô deixou que a rebeldia lhe subisse à flor da pele. Num certo fim de ano ele tomou aquelas decisões que só os corajosos conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto — e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida.
Não fosse por isso, eu não teria nem nascido — e não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho vermelho e contando essas coisas pra você. Sou portanto bisneto da rebeldia. Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores. E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas!
Foi assim que começou a minha vida. É assim que começa o meu livro
Estou escrevendo um livro que será resultante da minha ideia 0952, cujo título é
A seguir, um projeto interessante.
Sei que você tem certas competências, e quero utilizá-las da melhor maneira possível.
Sei que você também tem certos recursos, inclusive intelectuais, que precisam ser melhor direcionados.
Também sei que você já não tem tempo. Nem para si mesmo, nem para sua família, nem para seus amores. Então, como, mesmo assim, eu posso estar querendo contratar você para um ou mais projetos novos? Aqui é o X da questão. Antes de contratar você, eu quero te ajudar a ter mais tempo. É simples a fórmula. Eu te ajudo, você melhora – e então eu te contrato para aquele projeto que te parecer mais interessante. Pra isso, criei um site onde exponho minhas ideias. Um esboço público delas. Se houver interesse de sua parte, conversaremos.
Pago bem.
Ou talvez você possa ser meu sócio em algum dos empreendimentos.
Tudo com fundamento na Teoria dos Conjuntos e na Lei das Probabilidades. E na visão macro da Física Quântica e das Lógicas Formal e Dialética.
(*) Espero que seja Huawei.
Acabei me estendendo, mas eu só ia te contar que tive hoje (esta madrugada) minha ideia 935, que será um Aplicativo integrado para escritórios de advocacia.
Nem preciso dizer que será um App inteligente e revolucionário. Genial. Que todo bom escritório de advocacia, no mundo, gostará de ter.
Quer participar?
Será feito pela Liberdata Uruguay.
www.LiberdataUruguay.com
Sou um
estrategista nato. Jogo xadrez com a Vida a todo instante, o dia inteiro.
Sempre vejo três ou quatro lances à frente. E não deixo as circunstâncias
simplesmente acontecerem por si mesmas. Se de alguma forma me envolvem, ajo
sobre elas de modo racional. Procuro fazer com que atendam meus propósitos.
Eu não nasci
para ser um derrotado. O fracasso não me encanta. Acostumei-me a ser primeiro.
Abujamra interpretando meu Poema Mude.
Se sua empresa não tem problemas...
Tudo está interligado.
Eu não quero ser — e jamais serei — teu concorrente. Eu quero ser uma espécie de terapeuta comercial da tua empresa. Que tem muitos pontos fortes, certamente, mas que tem também alguns pontos de fraqueza, algumas deficiências. Não decorrentes dos seus planos, mas acidentais. Imprevistos que ocorrem em todo tipo de empresa. Fora da curva. Fora dos planos. Mas que interferem de modo negativo no sistema do negócio. Fazem perder clientes, ou, no mínimo, deixam alguns clientes não completamente satisfeitos. O que eu quero te dizer é mais ou menos isso.
Além do mais, estou profundamente envolvido na criação de algo que chamarei de O Grande Argumento. Para quê, você pode perguntar. Ora, para conquistar o coração de um grande amor, para vender um cacho de bananas ou para comprar uma empresa — tanto faz! Ou seja, um discurso racional fulminante para vencer objeções. A "fórmula mágica" para vencer objeções. O Grande Argumento.
211. Aceitar o inevitável é uma sábia decisão.
212. O auge de uma paixão está sempre no começo dela.
213. Não espere a graça do cisne no pescoço de um pato.
214. Em vez de salvar a relação, eu prefiro salvar o meu Amor.
215. Só tem uma coisa pior do que morrer: é viver pouco.
216. Sempre danço conforme a música. Mas, antes, escrevo a partitura.
217. Toda emoção é produto de um raciocínio.
218. Quem jura amor eterno deveria ser processado por estelionato emocional.
219. Toda musa já traz uma víbora dentro de si. É só uma questão de tempo.
220. Dispenso a compreensão daqueles que não conseguem me compreender.
Meu livro é uma cartilha, que deve ser lida pelo Espírito Amoroso (*) que mora no teu peito, e que quer se libertar. Que quer desabrochar. Meu objetivo principal é dar um toque delicado nesse Espírito rebelde que as circunstâncias aprisionam. É ajudá-lo a libertar-se ainda mais. Mostro como se deve amar a liberdade acima de todas as coisas. Se você for corajoso, salta comigo — e dançamos juntos no espaço infinito que criamos ao saltar. E se não for tão corajoso assim, se já estiver abraçado com firmeza ao poste enorme das crenças insensatas, pelo menos fica sabendo que na hora certa não se salta: tem que ser na hora incerta. Porque, além de amoroso, tem que ser ousado, esse Espírito! E se já não for mais tão ousado assim, acaba sabendo quanto tempo de vida já perdeu — e que ainda pode saltar antes que morra. O exemplo é meu bisavô, que só saltou aos 65 anos de idade... Nos braços da Vitalina, seu grande amor!
Mas se o leitor é do tipo que não salta de jeito nenhum, que prefere até morrer antes mesmo de morrer, tudo bem: dou-lhe uma dose mortal de compreensão. Como se pode notar, esse meu livro é uma cartilha... Mas só serve pra quem já sabe ler.
(*) Nietzsche chamava de "Espírito Livre".
441. Os saudáveis enlouquecem. Os outros ficam por aí, parecendo normais.
442. É uma delícia desfazer planos que os outros, à nossa revelia, nos fazem.
443. Se Jesus fosse casado, a Humanidade teria desperdiçado um Deus.
444. Prefiro ser um gladiador ensanguentado a ser um boi feliz.
445. Quanto mais insustentável for uma relação, mais difícil é sair dela.
446. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
447. Sempre que possível, deixo o oponente supor que me venceu.
448. O Pico é uma delícia. Por isso todo grande amor tem que ser deixado no Pico.
449. Temos que ser infiéis às nossas convicções — ou não mudaremos nunca!
450. Eu descubro as verdades: adoro vê-las nuas.
451. O ciumento quer o olho. Os amantes, os olhares.
452. Só o que está morto não muda.
453. Eu não vim distribuir água: eu vim distribuir sede.
454. Borboletas mortas não precisam de asas.
455. A raiva é apenas a conclusão desastrada de um raciocínio imperfeito.
A propósito: prefiro, primeiro, viver as aventuras, para só depois escrever sobre elas. Acho que assim fica mais fácil — e muito mais gostoso — do que apenas inventá-las para fazer ficção. A vida de um escritor original tem que ser baseada em fatos reais. É também por isso que estou aqui, hoje, nesta madrugada cor de anil, impressionante, escandalosa, dançando feito louco no enluarado coração da zona sul do meu Amor.
Muita gente escreve sobre a vida. Poucos vivem.
Não só nesse livro, mas na minha própria vida, eu defendo a LIBERDADE. Por consequência, também defendo o amor livre. Entretanto, não sou inflexível: se algum dia alguém me convencer de que o amor preso é muito mais gostoso, mais interessante, e principalmente muito mais prazeroso do que o amor livre — mudarei de ideia, imediatamente. Se alguém me convencer de que o ciúme é uma delícia, tomarei todas as providências cabíveis para me tornar um ciumento.
Este livro (Solidão a Mil) tem 400 páginas, e uma impressão antecipada da 3ª. edição já está à venda, por R$ 67,00. Se você tiver tempo, leia logo abaixo o primeiro capítulo. E se se decidir por dar um desses livros como presente, e não os encontrar à venda na sua livraria preferida, dê um click na segunda imagem da coluna da direita, ou fale com a Daniela, e a entrega poderá ser feita diretamente no endereço do destinatário, por Sedex.
Quem não ficar impressionado com este livro é porque não o entendeu.
Sou minha própria liberdade e tudo aquilo que permite. Sou a luz do meu caminho, sou meu passo, meu galope, meu próprio cavalo, meu cansaço, meu repouso, minha luta e minha dança. Meu sono e meu despertar, minha garganta e minha voz. Sou as palavras que profiro e até mesmo as que eu não digo. Sou a paz, harmonia que se reparte, como tudo, sou aquele que fica e o que parte, o que supõe — e o que dispõe. O criador e a criatura. O coração do cisne negro, as asas do pássaro no voo, o vento e a vela.
PORTANTO, OLHE PARA OS LADOS
Agora mesmo, onde você estiver, olhe para os lados. Observe o ambiente em seus mínimos detalhes. Apure a sensibilidade, ajuste a consciência, abra seu coração, respire fundo, olhe para os lados outra vez, e responda-me, sinceramente:
— São?!
Porque, se assim não forem, responda-me:
O que é que você continua fazendo aí?
Leia AQUI um texto sobre a Minha Mãe.